Novo Padrão de Distribuição: como a gestão de viagens corporativas está se adaptando ao NDC

Novo Padrão de Distribuição: como a gestão de viagens corporativas está se adaptando ao NDC

Por Marília Prado

O cenário das viagens corporativas vai além do que os viajantes percebem ao comprar passagens em sites de companhias aéreas. A interligação de data, horário, poltrona, tarifa, bagagem e mais, requer uma complexa trama de pessoas e sistemas, invisível ao público.

Funcionalidades como essas geralmente estão disponíveis para agências ou gestores de viagens corporativas, que agora têm uma opção inovadora ao buscar passagens: o NDC, ou New Distribution Capability.

O NDC é uma tecnologia que padroniza a distribuição do conteúdo entre a companhia aérea e os intermediários da cadeia. Este novo formato foi lançado há 8 anos pela IATA (em português, Associação Internacional de Transportes Aéreos), mas apenas recentemente vem recebendo maior adesão das companhias aéreas e operadores de viagens.

Criado para atender à crescente demanda por passagens aéreas e aos novos desafios na distribuição de conteúdo de viagem, o modelo NDC promete transformar a indústria de viagens, que até então era dominada pelo tradicional Sistema Global de Distribuição (GDS).

Diferença entre NDC e GDS

GDSs são sistemas que agregam, em um único lugar, a venda de diversos produtos envolvendo viagens corporativas e turismo, como as passagens aéreas. 

Essa aglutinação de diversos produtos em uma única ferramenta prevalece há décadas como a forma mais utilizada para a aquisição de voos corporativos por meio de agências. 

O sistema funciona, de forma simplificada, como um hub. E essa aglutinação, além de acrescentar intermediários no processo, requer a cobrança de taxas de uso de GDS.

A diferença básica entre GDS e NDC é que o NDC não é um sistema em si, mas uma padronização na forma de distribuir a informação. 

Pelo NDC, as informações passam a ser captadas diretamente das companhias aéreas, eliminando intermediários e reduzindo custos para as empresas compradoras e, consequentemente, para o cliente final. 

Apesar das diferenças entre GDS e NDC, especialistas avaliam que um não deixará de existir em decorrência de outro. O prognóstico é de que haja uma evolução, que passa pela adaptação dos grandes GDS para o uso do padrão NDC, a fim de captar as melhores combinações de voo e de serviços extras.

Daniel Duarte, gerente de operação da Paytrack em Blumenau, faz uma analogia com elementos do cotidiano: “É como quando a televisão surgiu, e houve rumores de que o rádio seria extinto. Ou que a internet substituiria todos os outros meios de comunicação. No mercado de viagens, GDS e NDC podem se complementar, inclusive. Nem toda a cadeia deve aderir ao NDC. Agências menores, que já tem seus sistemas e operações por meio do GDS estruturados, devem se manter assim. E há mercado para todos”, avalia.

Os benefícios do NDC no mercado de viagens

Segundo avaliações de especialistas da indústria de viagens, o NDC representa a transição das companhias aéreas de uma simples venda de assentos para proporcionar uma experiência de compra focada no cliente. 

As duas principais consequências do NDC para os negócios, apontadas por observadores do mercado, são a redução de custos, já que a despesa com distribuição é um dos itens mais custosos para as companhias aéreas, e a geração de novas receitas, pois a personalização e a oferta de mais produtos, como serviços extras (ancillaries), impulsionam as vendas para agências de viagens e companhias aéreas.

imagem da asa de um avião

O novo padrão permite que as companhias aéreas diferenciem seus produtos e serviços de maneira mais flexível para agências de viagens online, oferecendo customizações, inclusive em tempo real, como upgrades de cabine, seleção de assentos e refeições especiais.

O NDC promete ser mais intuitivo, proporcionando maior autonomia nas escolhas, e oferecer mais controle e eficiência nas transações comerciais. Além dos benefícios contábeis e financeiros das receitas, há indicações de vantagens, como economia de tempo no processamento de solicitações, redução de custos por meio da melhoria do processo e maior controle para viagens corporativas.

Como o NDC integra os sistemas de gestão de viagens

É por meio das ferramentas e assistência das TMCs que gestores de viagens e viajantes podem selecionar o que mais faz sentido para sua viagem. Assim, o NDC deve proporcionar uma melhor gestão de mudanças, possibilitando às Travels Techs personalização da oferta, adaptada a cada parceiro de negócios, já que irão trabalhar com informações mais completas e transparentes.

Especialistas avaliam que as TMCs que aderirem ao NDC terão acesso a tarifas mais competitivas, que atualmente não são disponibilizadas nos canais de distribuição tradicionais. 

No modelo atual, muitas companhias aéreas impõem taxas quando a reserva não é feita por meio do canal NDC. Como esses custos geralmente são repassados às empresas, uma gestão aprimorada dos produtos pode resultar em economia substancial para os clientes.

As TMCs que optarem por trabalhar com o NDC podem aprimorar sua função de integradoras de conteúdo, tornando-se mais estratégicas, analíticas e eficientes. Conforme indicam publicações recentes da IATA, a idealizadora do novo padrão, atualmente 40 agências já operam com o NDC implementado.

O Novo Padrão de Distribuição nas companhias aéreas

Durante o primeiro Travel & Expense Summit, realizado pela Paytrack em setembro deste ano, um dos painéis abordou o tema NDC com representantes de três importantes companhias aéreas com atuação nacional: Lufthansa, Azul e Latam. No evento, as lideranças compartilharam algumas das estratégias de suas empresas diante do NDC, além de desafios e vantagens da padronização. 

NDC na Lufthansa

A Lufthansa, desde 2016, vem promovendo uma adaptação de sistemas com foco no NDC, mas sem abandonar o tradicional GDS. Ao longo deste período, ferramentas foram desenvolvidas para suportar a transição e o uso do NDC na empresa, que aportou esforços e segue investindo para operar com a tecnologia. 

NDC na Azul

O GDS ainda é o sistema de apoio escolhido para a operação da Azul, juntamente com o DC (Direct Connection), por meio do qual agregadores conectam diretamente com os produtos da companhia. A Azul acredita que a nova tecnologia chegará à sua operação no futuro, mas optou por entender melhor os desafios e aguardar o aprimoramento do padrão, a fim de garantir a melhor experiência do viajante.

NDC da Latam

Para a Latam, o NDC é um fato consolidado e a companhia entende que o futuro da distribuição de conteúdo de produtos e serviços do mercado aéreo passa pelo novo padrão de distribuição. Houve um intenso trabalho da equipe técnica da empresa para a transição e atualmente todos os canais de vendas indiretas já recebem conteúdo distribuído via NDC. 

Acessos ao NDC de cada companhia serão diferentes, variando conforme pacotes específicos e  acordos bilaterais entre agências de viagens e empresas aéreas. Assim, uma das principais barreiras que o mercado sinaliza em relação ao NDC são os módulos a serem desenvolvidos para cada empresa aérea.  

Relatório contendo dados atuais do Sabre, um dos maiores GDS mundiais, contabiliza o lançamento de nove companhias aéreas operando com o sistema integrado ao NDC. Outras cinco empresas estão com projetos em desenvolvimento, das cerca de 40 companhias da pipeline Sabre. Entre as já lançadas estão American Airlines, Qatar e Avianca.

O fato é que o NDC passou de novidade à realidade no mundo das viagens corporativas. O anseio, presente no discurso da maioria dos operadores do mercado turístico, é de que o padrão vai melhorar sobremaneira a experiência do viajante, com simplicidade e mais acesso a produtos, proporcionando um caminho mais curto entre o viajante que está escolhendo e comprando a passagem, e a companhia aérea que está vendendo. Com tantas opções no menu, resta ao viajante desfrutar de mais comodidade, e às empresas aprimorar sua gestão de despesas com viagens corporativas.

Como a Paytrack está se adaptando ao NDC

A Paytrack vem observando a movimentação do mercado de viagens em torno da nova tecnologia e está preparada para implementar o NDC com um piloto interno com o padrão implantado. Após validações necessárias, esperadas ainda para o 1º trimestre de 2024, os clientes Paytrack que utilizam aéreo Latam já devem ter disponíveis ofertas de tarifas via NDC.

Tela do sistema Paytrack no notebook

“Estamos aguardando a implementação completa do NDC por parte das companhias aéreas para que possamos finalizar a adaptação da plataforma Paytrack e cobrir todas as especificidades das empresas em relação à nova tecnologia. Nossos usuários deverão sentir a diferença principalmente nas tarifas e na disponibilidade de produtos”, explica Ana Lúcia Trindade, gerente de operações da Paytrack em São Paulo.